Nam, mermã❢

dia de verão




três dias após nos vermos, trocamos algumas mensagens atemporais, o tempo estava seco e quente, havia anos que não se repetia um verão tão expressivo e, ao mesmo tempo, tão sufocante. a cidade inteira vestia roupas leves, coloridas, o céu era uma imensidão azul sem qualquer nuvem, os parques estavam lotados e as casas deixavam o vento invadir seus espaços com suas grandes janelas abertas. eu estava nos meus dias de folga, após trabalhar como uma louca por dias seguidos. o descanso era merecido, poucas coisas a fazer e alguns livros a organizar na nova biblioteca do apartamento. não era bem uma biblioteca com todas as letras, mas com o cômodo que se esvaziou com a saída da última moradora do 201, dava brecha para que meus livros pudessem, finalmente, saírem das caixas de supermercado.

ele não era umas das minhas grandes certezas, mas me apetecia saber que um homem tão atraente e com um humor, no mínimo, peculiar estava frequentando minha casa. não era sempre, alguns dias funcionavam como hiatos, nunca deu para entender se era algo proposital ou se, em silêncio, entramos em acordo, mas evitávamos dormir juntos por noites consecutivas. não era medo, mas existia a sensação de mergulhar, mas sem ir tão fundo. J., como posso mencioná-lo por essas próximas linhas, era o meu tipo de pessoa. por vezes deixava escapar isso enquanto o via colocar apenas a camisa para ir até a cozinha ou quando o via tomar água encostado na pia apoiado em uma só perna. era bonito de ver, mas, além disso, era minha pessoa por não se esforçar quase nunca para me entender. não sei se entendia realmente, mas as palavras vindas dele valiam mais do que qualquer outra. fazia pouco tempo desde que nos conhecemos, mas, vez ou outra, me pegava questionando a relatividade do tempo. eu já havia passado mais tempo em silêncio e entre conversas com J. do que com qualquer outra pessoa, não que tenhamos falado muito ou estado sempre perto, mas quando estávamos, de fato, estávamos. corpo e alma, posso assim dizer.

nunca fui do tipo de me insinuar, gosto de construir os ambientes, as situações. sou naturalmente manipuladora de momentos, e não acho isso ruim. aprendi que posso dizer a mesma coisa de diversas maneiras, assim como uma mesma situação pode ser desenrolada de n formas. gostava da forma como parecia estar no controle de tudo e ao receber um olhar demorado dele tudo escapava das minhas mãos. era uma brincadeira estável, nos entendíamos com os olhos abertos e fechados, uma graça de criança ganhava vida desde o bom dia até o beijo enorme de boa noite que sempre recebi, e quando não recebia, podia entender os motivos sem qualquer drama. a confiança que me fez ter, nele, em mim e no que vivíamos, era livre de cobranças, talvez porque a gente sempre podia rir juntos, e isso era incrível demais para nós dois.

da última vez ele avisou quando já estava a caminho da minha casa, eu havia acabado de chegar da banca de revistas, havia levado alguns livros para trocar, nada feito. peguei o celular e tinha três mensagens informando que em cinco minutos ele mataria minha saudade. não tinha como ler isso e não rir, tomei um banho, sequei o cabelo e esperei. ele chegou com o perfume de sempre, o abraço apertado e as frases sobre o dia caótico que teve na última semana. demorou alguns minutos até que nos encostássemos novamente, o beijo precisava tomar conta daquele apartamento. as mãos grandes e firmes na minha cintura, a boca no mesmo pescoço, não me deram muito espaço a não ser para sentir meu corpo inteiro sob seu poder. ríamos de alguma coisa, talvez por estarmos perto. atravessamos a saleta abraçados, aos beijos quentes como o dia. tirei minha blusa e pude sentir meus seios contra sua pele macia, falou alguma coisa sobre o próximo final de semana enquanto colocava a mão entre minhas pernas, respondi com um gemido.

os dedos brincavam na região enquanto eu me contorcia na cama para alcançar qualquer coisa que pulsasse mais que do que eu. o encontrei. uma, duas, três vezes para cima e para baixo, até que o levei à minha boca. o beijei completamente, girei os lábios e mexi a língua no ritmo dos olhos que o olhavam. lindo, nu na minha cama, apertando a boca para não deixar escapar qualquer coisa que quebrasse o silêncio daquele momento. me chamou com o indicador, no mesmo ritmo trocamos de lugar, seu rosto ficava ainda mais bonito enquanto me chupava de olhos fechados, com um sorriso nos lábios, tímido e safado. quando penetrou o corpo já pegava fogo, nossas mãos se encontravam entre os beijos, o corpo se movimentava num ir e vir sincronizado com o desejo que me fazia revirar os olhos e perder os sentidos.

era hora de eu assumir o comando, sentei por cima e joguei o cabelo para o lado, forcei os joelhos e num instante comecei a cavalgar em seu corpo. dançando como se houvesse música, como se só aquele momento importasse na cidade inteira. prendia e soltava. eu amava ver o seu rosto de prazer daquele ângulo. na verdade, o seu rosto me enchia de energia em qualquer situação. quando olhei nos seus olhos e deixei me invadir pela última vez, pude senti-lo transbordando dentro de mim. eu o amava e amava sentir tanto por alguém e com alguém. logo mais ele está chegando e só posso esperar para lhe entregar os beijos de saudade em todo o seu corpo.


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meu eu em tua lírica



quero sentir o cheiro de teu corpo depois de tomar um banho e caminhar até a esquina de casa. saber dos teus medos bobos de infância, de como era tua cabeça quando nada parecia fazer sentido. fico pensando se, por acaso, a gente teria se encantado de graça se nos cruzássemos na fila de um branco, na roleta de um ônibus, na escada de uma biblioteca, no estresse de um dia quente. imagino se eu não tivesse erguido a cabeça no momento certo, na verdade, houve momento certo? não sei se até o andar apressado do relógio nos último meses foi definitivo para você esbarrar na minha vida, aliás, tenho diversas dúvidas. virou um vício ficar arquitetando outras formas de contar essa história, tirando e colocando vírgulas, recheando os vácuos com adjetivos e sensações. decorei os seus trejeitos, não me gabo por isso, pelo contrário, que mania essa de te observar, te absorver, te fazer diluir em gestos e comportamentos. os teus olhos miúdos encarando o chão quando te lançam uma pergunta, o indicador apertando o antebraço esperando a hora de ir embora do trabalho, da aula, do barzinho.

por que você sempre demonstra que não quer ficar? 
você não vai ficar? 

e você olha para o chão, gagueja, diz não entender, mas, meu bem, não há metáfora aqui ou acolá. por mais que eu muito queira te decifrar, te devorar, ser devorada, você não entrega todas as fichas, não bate a porta com força e, então, me confunde. planta ideias na meu sentido vago, alimenta feras cheias de expectativas, mas insiste em me oferecer o que procurei distraída por todos os cantos. você nunca vai, sempre fica. e coloca a boca na minha mão de leve depois de me fazer rir por quase nada, enlaça três mechas do meu cabelo, seus dedos dançam enquanto entrança minha vontade de mergulhar em ti, voar em ti, encostar meu eu em tua lírica, rima, métrica. canta do outro lado da janela, não deixa eu ouvir a melodia, nem tua voz. me faz querer adivinhar o que o corpo não sente, mas imagina.

você ainda vai querer ir?

não sou corrente, sou correnteza, fica, deixa minha água te inundar, te acarinhar os dedos enquanto sente a força que levita, que dá vida. teus anseios não ficam visíveis à luz do sol nem da meia lua inteira, fala-me da última vez que chorou ou sorriu até achar que iria morrer. deixa eu entender o que te mata pouco a pouco, coloca na mesa o que você quiser me servir, no seu tempo, ao seu gosto. eu degusto, não farei pouco de você, vou te fazer entender porquê enxerguei em ti uma metade que encaixa e soma, mas que é completa por si só. encosta teu peito magro nas minhas costas, deixa minha pele ser rua de areia movediça para tuas mãos pesadas e macias, desliza em mim sem medo de cair, de se perder. se eu estou aqui com você, não há perigo que não seja inventado, tua mente fértil é par para o meu jeito desvairado, que quando acha que chegou ao limite estende o horizonte sem perceber. 

posso abrir caixas e mais caixas de texto para tentar te guardar em palavras, figuras de linguagem ou em qualquer outro grau da sintaxe, mas você é mais, não cabe aqui e nem em lugar algum. desajustado como eu me defini por tempos, cômico eu ter te achado quando você me diz que deixou se perder. absurdo essa minha insistência em querer dominar e não assumir que, talvez, foi você quem me achou, por ventura, em alguma das minhas passadas apressadas ou enquanto meu pensamento me sabotava. e lá vou eu, mais uma vez, voltando para o começo, teimando em recontar uma história sem desfecho, sem saber como se inicia, tendo poucas certezas, muitas perguntas abafadas. você vira a cantiga do rádio do carro e uma toada cantada por um vaqueiro no meio da chapada em um piscar de olhos, você é tudo o que puder e quiser e entendo e quero para mim essa ideia de admirar e tentar te percorrer com todos os sentidos, com todo o corpo e energia que a física jamais viu ser dissipada.  


essa pessoa, se existe, ainda está perdida de mim. era saudade o que eu sentia de escrever um textinho. 
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me fale de suas cicatrizes: quanto pesa?



desde sempre tive fascinação por cicatrizes, não sei se fascinação é a palavra certa, mas quando vejo alguém com uma bela cicatriz exposta meu corpo não se aguenta. quer perguntar o motivo, se doeu, se faz tempo, se ainda machuca. essa é sempre a última pergunta, vou vendo o rosto desenvolver expressões. tem gente que começa rindo, acha engraçado minha curiosidade, diz que nunca viu alguém assim, mas aí a memória vai trazendo tudo de volta, uma história ganha corpo, e essa é a melhor parte. eu vejo os olhos carregarem, o semblante muda, tem relato feliz de um copo americano que caiu no pé no meio da bebedeira de sexta-feira com os amigos, tem as garrinhas do gato, que vive com a família há anos, no braço, na perna, no rosto. mas tem história que ganha outro corpo, que vai tirando o sorriso pouco a pouco do rosto, vai enchendo os olhos de um sentimento que eu nunca sei decifrar. nunca sei dizer se é fruto de uma dor física que ainda existe ou de uma coisa muito mais profunda, mais íntima, mais doída, daquele dorzinha fina, que vai na alma.

quando a história vai sendo contada eu sempre tento focar o máximo, estou ali para ouvir, sanar minha curiosidade, afinal, eu que comecei com essas perguntas absurdas. mas é difícil sustentar. de um jeito ou de outro, por mais que eu me controle, também percorro meu corpo, minha memória atrás das minhas cicatrizes. que são muitas, felizes, cômicas, que marcaram a pele. estaciono nas que machucaram fundo, que ultrapassaram os três pontos do queixo ou a queimadura na perna. essas viram quase nada, doeram, esperneei quando vi meu corpo aberto, ferido, porém são diferentes das cicatrizes não expostas, daquelas que estão cravadas sabe-se lá aonde, mas que sempre voltam, sempre dão sinal de que estão ali. 

minhas fraturas internas estão protegidas do mundo, dos olhares críticos e dos piedosos, estão longe de paramédicos, de consolos, inalcançáveis até mesmo para mim. só sei que um dia elas já doeram muito, mas que nenhum andar de relógio será suficiente para tirá-las de mim. é nesse ponto, que, ainda ouvindo qualquer uma das histórias que encontro por aí, descubro que minhas cicatrizes e sequelas para sempre serão minhas, para sempre estarão aqui. nós nos confundimos, o olhar distante e irrigado, as noites mal dormidas, os medos não palpáveis, criados ali, sem fundamento, são os vestígios desses pequenos e grandes acidentes que a gente se envolve durante a vida. 

mas quanto pesa uma cicatriz? quando pesa uma dor que ninguém enxerga? um desconforto que ninguém entende? são uma, duas, três mil inseguranças que ninguém sabe explicar de onde vem, mas quem saberia? se nem eu, ou você, que traz consigo a memória e a agonia consegue compreender, imagine... a gente não consegue por fim, não dá para por a mão e retirar, não dá para curar com beijinho como nossa mãe fazia antes. ela está ali, uma sequela latente, com o sangue vermelho denso, viva, e vez ou outra tentando ser protegida, escondida, sendo evitada de ser tocada, trazida à tona, remexida. mas é impossível, nós existimos e agora cada uma delas é real e faz parte de nossa existência. 

e ser, verbo que às vezes mais pesa do que pondera, fica mais leve quando duas pessoas, e suas cicatrizes, se encontram e se reconhecem uma na outra. sabendo que, apesar de não precisar ver corte algum, ali dentro daquele corpo muitas colisões já aconteceram e acontecerão, por fim, entendem que nunca poderão julgar um a dor do outro, o desconforto, a solidão de andar junto e mesmo assim se sentir só. acho que é daí que vem aquela lição de não julgar o próximo, a gente nunca sabe o que se passa naquela profundeza, que por mais que aponte superficialidade, algum dia já foi escavado com unhas ferozes e pontiagudas, machucando, maltratando, deixando marca. a gente nunca sabe do outro. é nesse ponto que eu queria chegar. vou seguir com alucinação por cicatrizes, por marcas na pele, e mais ainda, por aquelas que estão guardadinhas, mas que são reveladas no olhar perdido e na procura por um abraço apertado. 


"todo o mundo é parecido quando sente dor", Barão Vermelho (O poeta está vivo)


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o amor é um processo



estava onde queria estar, feliz da vida, gente boa e perto do mar. Sentidos aguçados, o corpo nem sabia por quem responder, aliás, era preciso responder algo? As cores cintilavam, bandeiras, cabelos armados, barracas que viraram casinhas. Uma mini-cidade com vários quarteirões e sotaques, organizada no caos, bonito como os que se pintam por aí. Eu em transe, alerta, desperta, vendo além do que se pode ver, sentindo um arrepio constante na espinha, era alívio e na hora eu nem sabia como descrever. Os olhos vagueiam, sem procurar por nada, apenas pela mania de serem livres, de amar o distante e querer entender o que está perto. Olhos atentos, que dormiam pouco, mas que reconheciam que o descanso também se faz no embalo, nas vielas e na ponta do cais. Um mar, três marés, vem e vai, menino que chuta a bola e dribla uma, duas ondas, números nos muros, na roupa, na ponta da língua. Chapeleiro não vendia chapéu, nem sabia se era dia útil ou se o tempo estava passando mesmo, aliás, o dia da partida pode se confundir com a hora da chegada?

eu o vi. Não você, mas ele. Você se tornou outra coisa, é diferente. Quem eu enxergava e não compreendia, era bonito, muita barba e pouca intimidade. Na minha, na sua, cada um no seu quadrado, ora mais, nunca tivera rédeas, mas agora as tinha. Foi melhor desviar o foco, mil encantos, mil tretas, mantenham distância de homens e mulheres bonitas demais, que falam alto ou que riem para incomodar, é um conselho. um zilhão de tretas gostosas. A noite inteira, suando, dançando, o corpo em êxtase, na lombada um tropeço, a lombra não perdoa. Ele e o bumbo na mão também não. Duas, três da manhã, sangue fervendo e corpo suando, ônibus é uma cuscuzeira e ninguém se atenta. Passa um café preto, pernas doloridas, pele queimada, ir para casa não era o mesmo "ir para casa". Uma linha reta, duas extremidades, eu e ele. Calada, fritando longe dos dois rios, ouvindo atenta, perseguindo o batucar do tambor. Ele, voz alta, destemido, saliente. Os olhos precisavam o ver, não adianta ir contra sua natureza, a voz quase no meu cagote precisava de rosto. Olhei. Camisa aberta, suor no rosto, sorriso de metragem indefinida, era ele de novo. Me virei. 

ora ora, cada um no seu quadrado. Tem minhoca que não é para bico de qualquer passarinho, pensamento encarcerador de desejo. Sem-teto, com estrelas. Esperar o tempo passar, dormir quando eles acordarem, dois corpos não ocupam o mesmo espaço. Silêncio, noite mais escura que o comum, olhos de Iracema. Ele vem caminhando, difícil reconhecer, não conhecia, como poderia fazê-lo? Por entre as casinhas, eu na arquibancada, assistindo ele espalhar graça. Na minha cabeça só o sono fazia sentido, ninguém precisa de expectativa. Mas eu sim, se ele falasse eu já teria a resposta na ponta da língua, desvia o caminho e passa por aqui. Passou, sorriu, perguntou se eu estava sem sono. Ops. Mudança de planos, nunca existiu sono no corpo alucinado. 

conversa, nome, sorrisos de dar inveja. Sensualidade, o Brasil é o melhor lugar, nordeste a casa de deus, de um deles. Eu queria dormir, mas o sono passava tinindo, o tempo fazia o contrário. Glória! Já sentia seu peito, seu cheiro. Dez, trinta minutos, sabia dos gostos, do avô, The Beatles e Rodrigo Amarante. Ele falava, eu falava, às vezes interrupções, beijos, às vezes, os dois falavam juntos, deusmelivre de ser encantamento. E era, ainda bem! Procura abrigo, ocupa e resiste, sexo forte e verdadeiro. Molhado, compassado, na ordem do dia que começava. Psiu! Fala baixinho, encosta no peito, ri desconhecidamente de si mesmo. O que era aquilo, nem interrogava. Era prazer, 40º graus e o menino do rio. Que rio? Aí eu poderia dizer, sem saber, de janeiro a janeiro. 

acorda, troca de lugar, procura por um assentamento, pode ser sem acento. É para se espreguiçar, agarrar no cangote, amassar e tirar a roupa. Deixa eu esticar meu corpo, lado a lado, cheiro de shampoo com fruta. nos conhecemos há mil anos, tira uma foto para guardar, olhos lindos e cansados. Sossega com o silêncio e o dia nascendo e dorme, em outra casinha, tão pronta quanto a anterior. Acorda, bom dia, sexo frágil, sem pressa. É de amor que chamam? Não antes de ver os defeitos. Não era amor, era mais, de morder e olhares doces. Até que o mar entra no meio, traz uma cantiga, bola para chutar, olha a onda. Coisa linda que meus olhos viam, de se apaixonar. Tá repreendida tamanha loucura, cura o tempo com uma conversa colorida de verde-mar. Senta do lado, mais perto, queria poder mergulhar dentro dele, mas a água tava no lado de fora. Não era vazio, era macio, sutil, puxava pela cintura. perdi o ar. 

banha de chuva, dança Baiana, aperta a garrafinha, antes disso mais uma barraca. Vulgo casinha, para dormir sidebyside. Dança, dois passos para atrás, quero vê-lo fazendo um passinho. Não quero repetir, mas ele é lindo, segura a mão, não pode se perder. Ri do menino, perde ônibus, não perde. Ufa! Chega no destino, sem saber que o destino já se fazia presente, é presente, é nosso. É você, que agora é. O céu de lá ri que chora, mais chuvisco, chuvarada. Pés sobre pés, quero andar com você, dançar também, mas não pisa. Flutua, abraça leve e não sustenta, aperta, ri na cara do perigo, gosto de você. Uma bike e o mapa astral, segue, sempre à esquerda, devagar. Fotogênico, camisa aberta de novo, vou morar nesse peito. Descansa, banco da praça é para gastar beijo e carinho, fica juntinho. Distante, um procurando pelo outro, se encontram. Senta no chão, eu afasto, almoça junto, doce de goiaba é a julieta ou o romeu? Não faltava nada, convida para o mar, vamo? vamo!, pega violão e o pincel vermelho, nós dois. Plural é puro que nem criança que pesca, se garante sem saber, cria riso sem querer. Deita no colo, pula na água, ri para a foto, o xis da equação perdeu a hora. Corre, senão não vai voltar para casa. Não queria. 

a cabeça fica martelando entre sonho e realidade, a cidade escurece, não vou mais vê-lo. Foi só isso. menina boba, chora no peito dele, diz o que quer, sem saber claramente o que sente. Escuta, pega a mala que pesa, a alma pondera, levita. A carona está esperando, o muro martela, foi lindo é questão de ser. E é mais, dois mil quilômetros, está pouco? Olha nos olhos e dá tchau, mas quem dá tchau pra si mesmo quando se mora fora de si? Ele aqui e eu lá, uma vida arredondada em minutos musicais, digita e envia, não precisa apagar. É de graça, de dentro para fora, de fora para o inalcançável. Tem um lugar no universo, surreal, Vênus em escorpião. Nós enfeitados, samba distante e quentinho no peito. Vontade de ter de novo, ser de novo, quando já se é, já se tem. 

felicidade por escrever sobre verdades, sentimento e gente de carne e osso.  
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se bastar: estou disponível para mim


Cheguei numa fase da vida que tenho certeza absoluta que nunca serei  a pessoa mais evoluída dessa era (talvez o mapa astral escorpiano explique), mas também sei que os percalços do caminho me ajudaram a fortalecer a crença em mim, nos meus desejos e nas vivências que carrego. Passei a perceber que o mundo inteiro cabe na palma da mão, e por que não na minha?, foi difícil entender que esse meu mundo é maior que muitos outros e ele me basta, essa é a expressão: se bastar. Não estou falando de egoísmo ou individualidade, ando longe dessas ervas daninhas, sei, mais que ninguém, que preciso de vários outros mundos para compor o meu, que preciso de um aconchego e do calor que só uma alma diferente da minha pode dar, compreendo e acredito fielmente que um único grão de areia não faz a ampulheta, até o tempo para existir precisa do "nós". E é lindo acordar para isso, que a gente sozinho é sem rumo, é sem piada boba e conforto na hora do choro, temos dois braços, mas ainda não aprendemos a nos abraçar, nem precisamos dessa astúcia toda. 

Gostoso é ver o outro, sentir o outro, mergulhar em riacho desconhecido, pisar em terreno fértil, mas que também é campo minado, aliás, lidar com uma outra vida não é fácil, mas é sempre enriquecedor, é só sentir ao invés de apenas olhar. Já escrevi por aqui que passei por situações que foram verdadeiras provações, precisei me voltar para o meu interior, e agora, aqui escrevendo para mim e para você, posso confirmar uma coisa que muitos dizem, mas esquecem de refletir sobre: tudo vem para o aprendizado. Se eu não  tivesse percorrido metade do que percorri, não entenderia o que é se colocar a frente de todos, talvez continuasse achando que isso é papo de quem está com dor de cotovelo e precisa se sentir bem resolvido, não é! A gente vive reproduzindo coisas sem perceber a essência daquilo, sem sentir a mudança que pode surgir quando afloramos nosso pensamento e percepções. Eu não saberia que tenho as melhores pessoas do meu mundo ao meu lado, torcendo por minha felicidade, se não tivesse chorado por várias manhãs, não teria precisado vencer o orgulho e colocado para fora todas as mágoas, mesmo que fosse depois de uma ou duas doses de cachaça, se não tivesse sentido a necessidade de esvaziar a alma. Você me entende? a gente está vivo, mas não é o bastante.

É necessário se observar, se entender, olhar com carinho para nossas cicatrizes, elas vão ficar na pele, vão grudar na memória, não existe saída, mas há vários jeitos de lidar com elas, de entendê-las e ter a plena certeza que, mesmo que tenha doído e nos feito padecer, hoje a gente sabe  exatamente o que fazer para evitar aquilo. Só se aprende assim, na prática, caindo, se jogando, não adianta tentar se proteger naquele medo bobo de quem já se machucou demais, a gente não precisa ter limites. Não sei quem inventou essa história de placar para emoções e relações, de quantas vezes cedeu, quantas vezes se apaixonou e quebrou a cara, quantas vezes puxou conversa, alô, em que mundo vocês vivem? Deixem o orgulho fora disso, aprendam a se entender e controlar suas expectativas, se analisem, saibam lidar com as dores, lembranças, sentimentos pesados, mas não se submetam a amarras, quem se conhece nunca está sozinho, quem sente o que quer e para onde deve ir, tem em si o melhor amigo, a melhor companhia, o melhor guia. É esse o tipo de amor que deve vir antes de todos os outros, o amor genuíno por quem somos, por quem já fomos. Se olhe e lembre das birras e receios do mês passado, elas deixaram de existir, você evoluiu, se olhe e lembre dos desafios que passou e do macarrão que conseguiu cozinhar, você venceu. Nós precisamos nos sentir mais felizes por nossas conquistas, se hoje foi um dia melhor que ontem, agradeça a você também, se sinta imensamente gratificado por cada evolução que você se permite alcançar, saiba que você é incrível por conseguir absorver coisas boas em meio a tantas situações tóxicas. Se ame por ter em você uma essência única, um coração que sabe de todos os seus segredos e mesmo assim persiste em pulsar sentimentos bons pelo seu corpo, muitas vezes cansado. 

Eu queria poder fazer você acreditar em tudo o que tenho dito aqui, em cada experiência minha nos últimos tempos, mas não tenho como. O que posso fazer é insistir para que você não desista do seu mundo por nada, não coloque nenhum outro mundo a frente do seu, nenhuma outra vontade a cima da sua, se respeite e cuide de quem você é e está se tornando. É desse jeito que pessoas bem resolvidas se encontram na vida, só assim relações saudáveis acontecem, quando dois mundos se encontram e decidem, pela liberdade de cada um, se colocarem lado a lado. Não se torture por escolhas erradas, por decepções e por quem saiu da vida de repente, cada instante foi válido, cabe a você decidir a importância que aquilo deve receber. A correria da vida não para aqui, ela que nos move, que leva e traz, que finca raízes e dá asas. Hoje eu estou disponível para mim e tenho encontrado pessoas que fazem o mesmo por elas, essas são as melhores, falam de si com empolgação e nos empolgam a seguir  juntos delas, a querer alcançar essa felicidade de carregar uma corpo e vivências que só a gente pode julgar e amar. 


feliz 2017. que todo dia seja o recomeço. obrigada pela visita!
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repete comigo: eu sou o recomeço


eu achava que já tinha experimentado muitas sensações boas, que já soubesse, por exemplo, quais são os melhores sentimentos, pensei que sabia demais e descobri que estou redondamente enganada. É incrível poder ser uma pessoa capaz de se encantar com o mínimo, isso faz toda a diferença na forma como enxergo e me relaciono com muitas coisas. O dia de chuva, descoberta de uma música, conseguir cozinhar, são pequenas alegrias que me fascinam, que dão rumo novo para o dia e que me fazem perceber que se os olhos precisam estar abertos, o coração precisa estar mais ainda. 

me lembro de ser sempre assim, desde criança a quantidade e nem o tamanho foram coisas significativas, o que me faz sentir com força ou ter a sensação de alegria que vem de dentro é parte de quem eu sou, me deixa viva e desenvolve minhas percepções de tudo que está ao meu redor. Quem se acostuma a observar consegue captar mais momentos de felicidade genuína, consegue se enxergar mais, se dispõe a se fazer feliz de várias formas, tem muita coisa próxima que suga nossa energia, tira nosso brilho, nos fazem duvidar de nossa capacidade, do nosso coração gigante e nós, por um ou dois segundos de burrice, chegamos a nos questionar, até mesmo, se somos pessoas difíceis de serem amadas. Dá para acreditar? 

se eu fosse deixar registrada (já deixando) a maior delícia-de-lição de 2016, com certeza não pensaria duas vezes, declararia que o maior despertar desse ano gigante e tumultuado foi a percepção de que recomeçar é necessário e uma maravilha, nessa mesma ordem. No início é tão distante a ideia de se se reerguer, de matar todos os monstros criados na nossa mente, de se bastar fortemente. O calendário passa devagar, a vontade de fraquejar grita em alto-falante, mas, se no meio disso você conseguir enxergar que qualquer pequena conquista, para se tornar maior e melhor, é importante, a felicidade vai chegar e o processo de recomeçar se torna, instantaneamente, um prazer vital. E nesse momento é possível aprender que a gente precisa recomeçar todos os dias, olhar para nossas grandezas, para nossa capacidade de superar desafios diários, a partir disso, passamos a ver o começar dos dias como a materialização não palpável do recomeço, é aí que acordar vai deixar de ser uma obrigação e se torna um bem-querer, o desejo da noite começa a ser: quero acordar!

acordar vai muito além de abrir os olhos e levantar da cama, acordar é despertar para a vida, e isso já é um clichêzão, porque quando se começa a pensar assim é fácil entender porque as manhãs são a melhor parte do dia, a disposição aumenta, atividades cumpridas também. Satisfação é a palavra que dá nome à sensação de ver sua vida deslanchando e em paz, paz consigo mesmo, com o mundo, com o que pode vir mais a frente, não temer enfrentar novas situações nem se sabotar com o que não é o que parece ser. Não é passível de discussão que quando a gente começa a canalizar nossa energia para bons projetos, boas pessoas, bons pensamentos a consequência é uma vida muito bem aproveitada, na simplicidade e calmaria de se estar quite com o universo. 

estar vivo requer ouvidos atentos aos conselhos, olhos filtrando o que devemos fazer ou não, viver precisa dos nossos sentidos espertos, do coração em paz, de pessoas revigoradas e que revigoram, de relações que nos acrescentam e pedem o melhor da gente, de oportunidades capturadas, de sonhos conquistados, de gente para a gente dividir essas conquistas, oportunidades, felicidades, tristezas, de fitinha do Bonfim para quem acredita ou de fé para quem está em dúvida. Depois de passar muita coisa e quase me perder por nada, recentemente, percebi que tudo isso faz parte de um ciclo, que quando nós somos capazes de enfrentar tudo e ser quem somos, mesmo se tivermos que calejar e padecer um pouquinho, é certo que antes do final da batalha já se sente o gosto da vitória, o sorriso que antes tardava, agora nem sai mais do rosto. 

confiar em nossos corações e na nossa força é a saída para viver firme, é dessa forma que se abre novas portas e que novas portas serão abertas para nós, a vida rende muito para quem investe em viver, para quem aprende que aprender é o primeiro passo, depois tudo fica maneiro e fácil de levar para frente. Eu não consigo encontrar o jeito certo para dividir com o mundo como estou orgulhosa da minha capacidade de resiliência, de me superar e de devolver a mim o amor e felicidade que tenho por mim mesma, desejo que todas as pessoas que estão passando por momentos difíceis e confusos consigam se olhar com carinho, porque a resposta e a cura para tudo está dentro da gente, na forma como a gente enxerga a vida. 

Agradeço a tua leitura, obrigada! Seguimos juntes. <3

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já diziam, constante na vida só a mudança


mude. vá e volte mil vezes se preciso for, não se preocupe com o que dizem, pensam ou imaginam, apenas vai seguindo o que você quer ou acha que quer. isso mesmo, ninguém precisa ter certeza de nada agora, esse sentimento de estar perdido não existe apenas em você, tem gente que aponta o dedo e sofre do mesmo mal. vai indo devagarzinho, pegue uns atalhos se for necessário.
pare. 
descanse, beba por uma noite inteira, não atenda ligações do chefe, faça rapel, se equilibre numa corda, visite uma igreja, apenas vai. o nosso erro é ficar se limitando, olha o mundo aí! tudo começa dentro da gente, aparece um ou dois desejos que crescem, que viram sonhos, e, na boa, sonho só existe pra ser realizado, ou pelo menos pra gente andar bem perto disso. porque sonho também pode ser treta, pode não dar tão certo assim, pode não ser pra gente. mas tudo é um viagem que vale muito a pena ser feita, nessa viagem acontecem mudanças (às vezes a gente nem percebe), muda-se de comida preferida ou de pessoa preferida, apenas acontece. 
e essas mudanças são inevitáveis, a gente sendo gente, mesmo. a lagarta de Alice no país das maravilhas está corretíssima, a gente muda toda hora mesmo, quando vai dormir já tem outras visões, outros conceitos. mas tudo isso é uma parte da gente, mas tem coisa que não sai da gente de jeito nenhum. quem a gente é em essência. quem a gente é nas manias, nos desejos mais secretos, nos defeitos, nos pensamentos mais infantis. a gente é essa maravilha toda que fica em casa só e já vai botando Jorge Ben e aproveitando pra arrumar o armário, uma maravilha com gostos e ideias só suass, que domina uns assuntos e sentimentos e outros não, que sabe o ascendente mas não sabe qualé a do ascendente. 
ah, na moral mesmo, falando de amigo pra amigo, a gente é essa maravilha mesmo, eu estou com toda a razão, e vamos nos acostumar com isso, aceitar no sentido seguro da palavra, vamos amar a maravilha que a gente acrescenta no mundo, e mais, no mundo de certas pessoas. porque a gente precisa mesmo é primeiro ser uma maravilha absoluta, pra depois o plural entrar na história. 


* dizem que quem disse pela primeira vez que a mudança é a única constante foi o pensador Heráclito de Efeso.
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gravidade zero: somos um universo



sempre gostei de reproduzir aquela frase que diz "cada pessoa é um universo", mas de uns dia para cá percebi que não é bem assim. o universo é extremamente organizado e equilibrado, e nós? somos também? a resposta pode ser que não, que somos uma bagunça incalculável, sem leis que nos regem e nos equilibram, sem qualquer força que nos façam ficar com os pés no chão ou que, na sua ausência, nos façam levitar para descobrir que tudo se transforma com o tempo. mas por outro lado pode-se dizer que somos sim um universo individual! um apanhado de poeiras de estrelas, de brilhos, colisões, explosões e de cometas que cruzam o céu numa linda noite de sábado.

a verdade é que eu não sei olhar para mim mesma e dizer se sou ou não um universo, se tenho ou não me equilibrado da maneira que deveria ser, aliás, quem dita isso? quem pode dizer se estou tomando as atitudes certas ou indo para o rumo que não vai ofuscar meu brilho? você, como um cientista que estuda o universo e seus mistérios, pode me estudar e me julgar também? eu, como sendo o próprio universo, tenho o discernimento necessário para me analisar e afirmar, com toda a certeza que a ciência parece ter, que eu não estou fazendo da forma certa e que haverão mais explosões solares no meu peito do que eu aguente? quem pode me dizer o que fazer, quem pode apontar o dedo para as minhas decisões, dores e paixões? você? eu?

ultimamente tenho sentido a vida escapando das minhas mãos, como se eu não tivesse todo o poder que pensava ter, percebi que muitas vezes a gente sabe o que precisa fazer, ou pelo menos deveria saber, mas algo muito além nos faz agir de outra forma, cria mil dúvidas e acabamos por fazer tudo de forma contrária, mas sem saber se é o certo ou o errado. comecei a sentir que a inconstância da vida pode se parecer muito com as mudanças que o universo sofre constantemente, a única diferença é que a nossa vida não tem milhões de anos de experiência ou milhões de anos para erros, tentativas e acertos.

e por mais que essa confusão toda passe por minha cabeça centenas de vezes por dia, ainda sim acredito que somos um universo em constante expansão e que, na sua individualidade, não cansa de procurar por equilíbrio. o que esse universo precisa é que conversemos com ele, que busquemos a sabedoria para lidar com todas as causas e efeitos, com cada cometa que cruza o céu ou com a gravidade zero. e por decreto somos um universo, cada qual com o seu, mas com a incessante vontade de abarcar tudo de lindo que se pode ter, de ser o que nenhum outro astronauta visitou, singular e intransferível.



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domingo, skank e banho de mangueira

                                                                                   Para ler ouvindo: Canção Noturna.
                                                                                                         
Domingo sempre foi um dia muito estigmatizado por mim. Quando ainda morava na casa dos meus pais era o dia da semana que a gente almoçava junto e colocava os papos em dia, era quando eu brincava com minha irmã e depois ia dançar ouvindo as fitas do "É o tchan". Era o dia de organizar todos os cadernos e livros para começar a semana com tudo planejado, era dia de estudar algumas coisinhas também, de ver TV, de alugar filmes na locadora, de tomar sorvete até a garganta inflamar, de banho de mangueira no quintal. Domingo era dia de ficar em casa e isso era uma delícia.

Quando saí de casa para estudar em outra cidade, domingo passou a ser um dia de saudade, de querer repetir o que já fiz nesse dia, que é o primeiro da semana mas também parece ser o último. Domingo passou a ser carregado de lembranças, de querer voltar para casa dos meus pais, de procurar um quintal cheio de árvores, como era o lá de casa, e tomar um banho de mangueira, comer melancia e apostar qual semente seria cuspida mais longe. Domingo me dá saudade da minha infância, dos meus sonhos, dos meus amigos, da minha cidade natal, da minha irmã e da nossa estranha amizade. Domingo virou um dia a ser enfrentado, ou então eu seria engolida pela melancolia. 

Mas hoje acordei sozinha, às 11h20, não sabia se tomava café da manhã ou se almoçava, preferi ficar deitada rolando o feed do Instagram e pensando na vida. Até que levantei, providencie almoço, arrumei o apartamento, separei papéis, pensei no tema de TCC, falei com minha mãe e perguntei o que ela iria almoçar, só para reacender a minha saudade da comidinha dela. Almocei assistindo a Globo - que fase - , sozinha, aliás, eu e meus pensamentos, eu e o solzão que triplica em dia de domingo.

Agora, por acaso, eu encontrei uma matéria falando do Skank dos anos 90, e sabe, foi a melhor coisa, Skank é uma banda que sempre tocou nos shows que eu fazia na sala da casa dos meus pais, e eu estou escrevendo e ouvindo "garota nacional, acima do sol, o beijo e a reza", estou ouvindo e lembrando de uma ruma de coisas, de gente. Domingo está se esticando com os meus anos de vida, a melancolia deixa de ser confundida com tristeza e passa a ser lembrança boa, sinal de vida bem vivida. Mas o coração insiste, não adianta, toda saudade é meio triste e alegre demais, né?
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e a ressaca emocional, quem cura?



essa semana tive a oportunidade de intermediar uma roda de discussão sobre um tema interessante, que era para ser super acadêmico, mas que acabou virando uma prosa gostosa. E durante essa conversa, um dos convidados, que é poeta-gente-fina, disse, entre uma fala e outra, que a gente precisa se alimentar mais do que é sensível e imaterial, que as artes são cheias dessas coisas e que as palavras principalmente. Aahhh, bastou ele falar isso para eu levantar os olhos e voltar toda a atenção para o momento. Nós debatíamos sobre cultua, jornalismo e muitas outras coisas, mas foi essa fala despretensiosa (ou não) que me pegou de jeito.

juro, eu me encantei com isso. 

é que os tempos não estão sendo fáceis, falo de mim e das pessoas que mantenho contato quase diário, está tudo muito difícil de ser ajustado, está difícil se ajustar a tais/tantas coisas. Olha o exemplo, se você quer viajar, falta dinheiro, se quer viajar, falta tempo, se quer viajar, falta companhia, se quer viajar, falta carona e com tantos empecilhos, de uma hora para outra... se quer viajar, se desiste e vai ver Tv. 

eu sei que dificuldade sempre existiu e que a vida é uma loucura hard, mas nós andamos enfraquecidos para tanto obstáculo, é como se tivéssemos faltado ao treinamento de como lidar com a dureza da vida... e aí ficou meio mundo de gente confuso, perdido, meio abitolado das ideias, com uma crescente vontade de não fazer mais nada e ver aonde essa merda toda vai dar. É um pingo de revolta e outro pingo daquele cansaço de sexta-feira ao meio dia, quando bate a vontade de ir para casa, mas ainda faltam algumas horas de trabalho/estudo/estágio, enfim, de obrigações que viraram enfadonhas (ou sempre foram).

sem contar do que vem acontecendo nesse mundão de meu deus. 

todo dia é uma ruma de coisa ruim, uma dor, uma vida, uma saudade, um desespero que ataca quem está num aeroporto ou boate no outro lado do mundo, mas que dói em mim, dói em você. E falar dessa dor do outro, que é absorvida-sentida-sofrida por nós, é decifrá-la pela palavra empatia, é explicá-la quando o nosso coração parece conectado com o coração do outro, é resumi-la quando eu digo que eu e você somos pessoas sensíveis, empáticas e raras. 

queria poder confortar todas as pessoas que passam por problemas, queria poder descobrir quando o silêncio ou o sorriso falso esconde algum nó profundo e doloroso, queria poder ser menos egoísta achando que eu sou a pessoa que mais sustenta perrengue, porque, felizmente, eu não sou. Essa semana foi bem complicada (nesse momento ainda não acabou), foi uma semana que dificilmente sairá da mente de muitas pessoas e eu absorvi um pouco da dor e angústia desses dias, tive pesadelos e choros impacientes. No entanto, para tentar me ajudar, por muitos momentos eu quis sentar e falar sobre isso com algumas pessoas, mas eu sabia que elas não me entenderiam, que haveriam mais perguntas e julgamentos do que abraço apertado e mão estendida. 

não as culpo, não nos culpo.

cada um lida com o mundo-sentimentos-outro de uma forma, mas sinto que falta um pouco de ouvidos atentos e coração aberto para atender a angústia de quem convive com a gente. Falta um pouquinho de percepção de mundo e de sentimento verdadeiro. Olhe só, tem gente que parece durona, mas nem é tanto assim, tem gente que sustenta calado porque não vê outra saída, tem muita gente que só precisa sentir um pouquinho de carinho e preocupação para poder desabafar e chorar por alguns minutos. Lá em cima tentei parafrasear o amigo poeta, e ele está certíssimo, vamos nos alimentar do que é sensível, vamos engolir mais amor e espalhá-lo ao nosso irmãx, amigox, maridx ou a quem quer que seja. Tem dias que são difíceis e uma coisinha de nada os transformam, acredito que uma coisinha de nada também pode transformar esses tempos difíceis que Amélie nos falou. E essa coisinha que cura a gente sabe o que é. 

coisinha de nada é o mesmo que um gesto pequeno ou um singelo detalhe.
obrigada por dividir esse momento comigo. 
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