dia de verão
três dias após nos vermos, trocamos algumas mensagens atemporais,
o tempo estava seco e quente, havia anos que não se repetia um verão tão
expressivo e, ao mesmo tempo, tão sufocante. a cidade inteira vestia roupas
leves, coloridas, o céu era uma imensidão azul sem qualquer nuvem, os parques
estavam lotados e as casas deixavam o vento invadir seus espaços com suas
grandes janelas abertas. eu estava nos meus dias de folga, após trabalhar como
uma louca por dias seguidos. o descanso era merecido, poucas coisas a fazer e
alguns livros a organizar na nova biblioteca do apartamento. não era bem uma
biblioteca com todas as letras, mas com o cômodo que se esvaziou com a saída da
última moradora do 201, dava brecha para que meus livros pudessem, finalmente,
saírem das caixas de supermercado.
ele não era umas das minhas
grandes certezas, mas me apetecia saber que um homem tão atraente e com um
humor, no mínimo, peculiar estava frequentando minha casa. não era sempre,
alguns dias funcionavam como hiatos, nunca deu para entender se era algo
proposital ou se, em silêncio, entramos em acordo, mas evitávamos dormir juntos
por noites consecutivas. não era medo, mas existia a sensação de mergulhar, mas
sem ir tão fundo. J., como posso mencioná-lo por essas próximas linhas,
era o meu tipo de pessoa. por vezes deixava escapar isso enquanto o via colocar
apenas a camisa para ir até a cozinha ou quando o via tomar água encostado na
pia apoiado em uma só perna. era bonito de ver, mas, além disso, era minha
pessoa por não se esforçar quase nunca para me entender. não sei se entendia
realmente, mas as palavras vindas dele valiam mais do que qualquer outra. fazia
pouco tempo desde que nos conhecemos, mas, vez ou outra, me pegava questionando
a relatividade do tempo. eu já havia passado mais tempo em silêncio e entre
conversas com J. do que com qualquer outra pessoa, não que tenhamos falado
muito ou estado sempre perto, mas quando estávamos, de fato, estávamos. corpo e
alma, posso assim dizer.
nunca fui do tipo de me insinuar,
gosto de construir os ambientes, as situações. sou naturalmente manipuladora de
momentos, e não acho isso ruim. aprendi que posso dizer a mesma coisa de
diversas maneiras, assim como uma mesma situação pode ser desenrolada de n
formas. gostava da forma como parecia estar no controle de tudo e ao receber um
olhar demorado dele tudo escapava das minhas mãos. era uma brincadeira estável,
nos entendíamos com os olhos abertos e fechados, uma graça de criança ganhava
vida desde o bom dia até o beijo enorme de boa noite que sempre recebi, e
quando não recebia, podia entender os motivos sem qualquer drama. a confiança
que me fez ter, nele, em mim e no que vivíamos, era livre de cobranças, talvez
porque a gente sempre podia rir juntos, e isso era incrível demais para nós
dois.
da última vez ele avisou quando
já estava a caminho da minha casa, eu havia acabado de chegar da banca de
revistas, havia levado alguns livros para trocar, nada feito. peguei o celular
e tinha três mensagens informando que em cinco minutos ele mataria minha
saudade. não tinha como ler isso e não rir, tomei um banho, sequei o cabelo e
esperei. ele chegou com o perfume de sempre, o abraço apertado e as frases
sobre o dia caótico que teve na última semana. demorou alguns minutos até que
nos encostássemos novamente, o beijo precisava tomar conta daquele apartamento.
as mãos grandes e firmes na minha cintura, a boca no mesmo pescoço, não me
deram muito espaço a não ser para sentir meu corpo inteiro sob seu poder.
ríamos de alguma coisa, talvez por estarmos perto. atravessamos a saleta
abraçados, aos beijos quentes como o dia. tirei minha blusa e pude sentir meus
seios contra sua pele macia, falou alguma coisa sobre o próximo final de semana
enquanto colocava a mão entre minhas pernas, respondi com um gemido.
os dedos brincavam na região
enquanto eu me contorcia na cama para alcançar qualquer coisa que pulsasse mais que do que eu. o encontrei. uma, duas, três vezes para cima e para
baixo, até que o levei à minha boca. o beijei completamente, girei os lábios e
mexi a língua no ritmo dos olhos que o olhavam. lindo, nu na minha cama,
apertando a boca para não deixar escapar qualquer coisa que quebrasse o
silêncio daquele momento. me chamou com o indicador, no mesmo ritmo trocamos de
lugar, seu rosto ficava ainda mais bonito enquanto me chupava de olhos
fechados, com um sorriso nos lábios, tímido e safado. quando penetrou o
corpo já pegava fogo, nossas mãos se encontravam entre os beijos, o corpo se
movimentava num ir e vir sincronizado com o desejo que me fazia revirar os
olhos e perder os sentidos.
era hora de eu assumir o
comando, sentei por cima e joguei o cabelo para o lado, forcei os joelhos e num
instante comecei a cavalgar em seu corpo. dançando como se houvesse música,
como se só aquele momento importasse na cidade inteira. prendia e soltava. eu amava ver o seu rosto de prazer daquele ângulo. na
verdade, o seu rosto me enchia de energia em qualquer situação. quando olhei
nos seus olhos e deixei me invadir pela última vez, pude senti-lo transbordando dentro de mim. eu o amava e amava sentir tanto por alguém e com
alguém. logo mais ele está chegando e só posso esperar para lhe entregar os
beijos de saudade em todo o seu corpo.
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