o amor é um processo

Nenhum comentário


estava onde queria estar, feliz da vida, gente boa e perto do mar. Sentidos aguçados, o corpo nem sabia por quem responder, aliás, era preciso responder algo? As cores cintilavam, bandeiras, cabelos armados, barracas que viraram casinhas. Uma mini-cidade com vários quarteirões e sotaques, organizada no caos, bonito como os que se pintam por aí. Eu em transe, alerta, desperta, vendo além do que se pode ver, sentindo um arrepio constante na espinha, era alívio e na hora eu nem sabia como descrever. Os olhos vagueiam, sem procurar por nada, apenas pela mania de serem livres, de amar o distante e querer entender o que está perto. Olhos atentos, que dormiam pouco, mas que reconheciam que o descanso também se faz no embalo, nas vielas e na ponta do cais. Um mar, três marés, vem e vai, menino que chuta a bola e dribla uma, duas ondas, números nos muros, na roupa, na ponta da língua. Chapeleiro não vendia chapéu, nem sabia se era dia útil ou se o tempo estava passando mesmo, aliás, o dia da partida pode se confundir com a hora da chegada?

eu o vi. Não você, mas ele. Você se tornou outra coisa, é diferente. Quem eu enxergava e não compreendia, era bonito, muita barba e pouca intimidade. Na minha, na sua, cada um no seu quadrado, ora mais, nunca tivera rédeas, mas agora as tinha. Foi melhor desviar o foco, mil encantos, mil tretas, mantenham distância de homens e mulheres bonitas demais, que falam alto ou que riem para incomodar, é um conselho. um zilhão de tretas gostosas. A noite inteira, suando, dançando, o corpo em êxtase, na lombada um tropeço, a lombra não perdoa. Ele e o bumbo na mão também não. Duas, três da manhã, sangue fervendo e corpo suando, ônibus é uma cuscuzeira e ninguém se atenta. Passa um café preto, pernas doloridas, pele queimada, ir para casa não era o mesmo "ir para casa". Uma linha reta, duas extremidades, eu e ele. Calada, fritando longe dos dois rios, ouvindo atenta, perseguindo o batucar do tambor. Ele, voz alta, destemido, saliente. Os olhos precisavam o ver, não adianta ir contra sua natureza, a voz quase no meu cagote precisava de rosto. Olhei. Camisa aberta, suor no rosto, sorriso de metragem indefinida, era ele de novo. Me virei. 

ora ora, cada um no seu quadrado. Tem minhoca que não é para bico de qualquer passarinho, pensamento encarcerador de desejo. Sem-teto, com estrelas. Esperar o tempo passar, dormir quando eles acordarem, dois corpos não ocupam o mesmo espaço. Silêncio, noite mais escura que o comum, olhos de Iracema. Ele vem caminhando, difícil reconhecer, não conhecia, como poderia fazê-lo? Por entre as casinhas, eu na arquibancada, assistindo ele espalhar graça. Na minha cabeça só o sono fazia sentido, ninguém precisa de expectativa. Mas eu sim, se ele falasse eu já teria a resposta na ponta da língua, desvia o caminho e passa por aqui. Passou, sorriu, perguntou se eu estava sem sono. Ops. Mudança de planos, nunca existiu sono no corpo alucinado. 

conversa, nome, sorrisos de dar inveja. Sensualidade, o Brasil é o melhor lugar, nordeste a casa de deus, de um deles. Eu queria dormir, mas o sono passava tinindo, o tempo fazia o contrário. Glória! Já sentia seu peito, seu cheiro. Dez, trinta minutos, sabia dos gostos, do avô, The Beatles e Rodrigo Amarante. Ele falava, eu falava, às vezes interrupções, beijos, às vezes, os dois falavam juntos, deusmelivre de ser encantamento. E era, ainda bem! Procura abrigo, ocupa e resiste, sexo forte e verdadeiro. Molhado, compassado, na ordem do dia que começava. Psiu! Fala baixinho, encosta no peito, ri desconhecidamente de si mesmo. O que era aquilo, nem interrogava. Era prazer, 40º graus e o menino do rio. Que rio? Aí eu poderia dizer, sem saber, de janeiro a janeiro. 

acorda, troca de lugar, procura por um assentamento, pode ser sem acento. É para se espreguiçar, agarrar no cangote, amassar e tirar a roupa. Deixa eu esticar meu corpo, lado a lado, cheiro de shampoo com fruta. nos conhecemos há mil anos, tira uma foto para guardar, olhos lindos e cansados. Sossega com o silêncio e o dia nascendo e dorme, em outra casinha, tão pronta quanto a anterior. Acorda, bom dia, sexo frágil, sem pressa. É de amor que chamam? Não antes de ver os defeitos. Não era amor, era mais, de morder e olhares doces. Até que o mar entra no meio, traz uma cantiga, bola para chutar, olha a onda. Coisa linda que meus olhos viam, de se apaixonar. Tá repreendida tamanha loucura, cura o tempo com uma conversa colorida de verde-mar. Senta do lado, mais perto, queria poder mergulhar dentro dele, mas a água tava no lado de fora. Não era vazio, era macio, sutil, puxava pela cintura. perdi o ar. 

banha de chuva, dança Baiana, aperta a garrafinha, antes disso mais uma barraca. Vulgo casinha, para dormir sidebyside. Dança, dois passos para atrás, quero vê-lo fazendo um passinho. Não quero repetir, mas ele é lindo, segura a mão, não pode se perder. Ri do menino, perde ônibus, não perde. Ufa! Chega no destino, sem saber que o destino já se fazia presente, é presente, é nosso. É você, que agora é. O céu de lá ri que chora, mais chuvisco, chuvarada. Pés sobre pés, quero andar com você, dançar também, mas não pisa. Flutua, abraça leve e não sustenta, aperta, ri na cara do perigo, gosto de você. Uma bike e o mapa astral, segue, sempre à esquerda, devagar. Fotogênico, camisa aberta de novo, vou morar nesse peito. Descansa, banco da praça é para gastar beijo e carinho, fica juntinho. Distante, um procurando pelo outro, se encontram. Senta no chão, eu afasto, almoça junto, doce de goiaba é a julieta ou o romeu? Não faltava nada, convida para o mar, vamo? vamo!, pega violão e o pincel vermelho, nós dois. Plural é puro que nem criança que pesca, se garante sem saber, cria riso sem querer. Deita no colo, pula na água, ri para a foto, o xis da equação perdeu a hora. Corre, senão não vai voltar para casa. Não queria. 

a cabeça fica martelando entre sonho e realidade, a cidade escurece, não vou mais vê-lo. Foi só isso. menina boba, chora no peito dele, diz o que quer, sem saber claramente o que sente. Escuta, pega a mala que pesa, a alma pondera, levita. A carona está esperando, o muro martela, foi lindo é questão de ser. E é mais, dois mil quilômetros, está pouco? Olha nos olhos e dá tchau, mas quem dá tchau pra si mesmo quando se mora fora de si? Ele aqui e eu lá, uma vida arredondada em minutos musicais, digita e envia, não precisa apagar. É de graça, de dentro para fora, de fora para o inalcançável. Tem um lugar no universo, surreal, Vênus em escorpião. Nós enfeitados, samba distante e quentinho no peito. Vontade de ter de novo, ser de novo, quando já se é, já se tem. 

felicidade por escrever sobre verdades, sentimento e gente de carne e osso.  

Nenhum comentário :

Postar um comentário