sobre junho, ansiedade e prioridades

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é junho, mais exatamente um dia antes de festejar São João, em todo lugar tem bandeirinha e bombinha, todo dia tem paçoca ou Maria Izabel soltinha no prato. definitivamente, junho é um mês gostoso, as férias começam e o dia passa a render, é tempo que não se acaba mais, é  noite esticada e sono até mais tarde, e olhem que eu nem estou de férias, mas é que junho tem esse poder. e a resposta é sentida e vista da janela, quando toda manhã separo as cortinas e me sento para pensar na vida, naquele ritmo de quem acabou de acordar e vai demorar para chegar no 220v.

ali, naquele momento, dá para sentir o dia acontecer quando o vento passa pelas janelas e mexe com tudo, faz as cortinas dançarem um ritmo desordenado, mas com aquela organização de quadrilha de rua. e nessa calma de viver a manhã, tem pipa-papagaio-raia-ou-pandorga, colorindo o céu da cidade, sem se importar como é chamada, apenas sendo vista daqui, dando um espetáculo no céu aberto e limpo, fazendo o menino correr por calçada, meio de rua e no chão quente, fazendo o menino pegar sol e ouvir sermão em casa no fim do dia. mas quem é que liga, né?, a galera do meu bairro com certeza não.

esse negócio de observar o dia passando é mania de quem tem horas livres, que pode se dar o luxo de cruzar as pernas e pensar um pouco na vida ou em nada, e, infelizmente, são poucos os que tem uns minutinhos para fazer isso. esse ritmo frenético faz junho - e todos os meses - durar quase nada, como se o mês voasse e deixasse apenas contas para pagar e uma dor infernal nas costas, é um fluxo que foge do nosso controle, do nosso fluxo, do nosso tempo pessoal, a rotina engole tudo. eu, já contando um aprendizado, precisei me conformar em abrir mão de algumas coisas para poder desacelerar a vida, para poder sentir o eu se modificando e o mês sendo vivido. não tem sido fácil, mas esse é um processo que é plantado com a semente do tempo, quando se entende que o nosso tempo precisa ser respeitado, que cada um tem um ritmo, limite e fluxo só seu, saber lidar com eles é saber lidar consigo mesmo, é manter tudo, na medida do possível, na harmonia.

encarar as coisas dessa forma não é tornar-se um saco de ossos sentado no sofá ou na frente do computador o dia todo, tomar esse processo para si é uma jeitinho de organizar tudo, executar as atividades e ainda sobrar tempo para uma cerveja com os amigos ou uma comidinha preparada em casa. é simples entender que é dessa maneira que nós devemos lidar com o tempo e nossas (tantas) obrigações, é um sonho conseguir por em prática esse modelo de rotina que envolve disposições física e mental, é um esforço que faz o tempo ser valioso e sentido a cada instante e que contagia todas as pessoas que convivem conosco.

esse é o meu conselho para quem tem ansiedade ou qualquer outro desconforto, para quem, assim como eu, vive com mil coisas na cabeça o tempo todo e esse fluxo frenético faz com que as coisas não saiam do jeito certo, que passemos por maiores decepções e cansaços emocionais. compreender que a verdadeira alegria só vem com o tempo é começar a ser atuante no ritmo da própria vida, como se tomássemos o controle de volta. é uma relação sua consigo mesmo e sua com o mundo que nos cerca, se começarmos a entender que muita coisa pode esperar, será o mesmo de prezar pelo bem da nossa sanidade e felicidade. esse processo é uma luta contra o sistema e a favor de uma vida melhor, seguimos juntos e fortes.

2 comentários :

  1. Que texto tranquilizante! Deu até para lembrar do seu cantinho, dos junhos animados que já tive, uma verdadeira nostalgia calmante. Adorei.

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