A pressa da rotina, morte precoce da alma: a vida que não escolhi

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 Por muitos dias acreditei que a vida tem que ser essa correria mesmo, não há outra saída. Acreditei tanto que caí e me fiz seduzida por esse ritmo desordenado e de pressa, fui sendo levada, arrastada pelas horas que correm feito a luz, pelos dias que, antes mesmo de se darem concluídos, já me faziam cansada e me enxergavam de olhos profundos e paralisados, talvez distantes e tristes. Não sei como as pessoas têm me visto, mas eu, na falta de ordem, nunca mais me analisei, como sempre gostei de fazer. E essa é a parte que me dói confessar, parece que estou me perdendo de mim mesmo. 
 Não a matéria, não os vícios, mas os sonhos, os sentimentos. Como se a essência, o que me faz ser eu, estivesse escapando quando não me percebo, quando só quero parar meu corpo cansado e suado em alguma sombra, sozinho, sem pensar em nada. Porque de tanto ser jogado de um lado para o outro, sem nem ser questionado se quer isso mesmo para si, meu corpo está pedindo socorro, "me tire dessa!", ele grita todas as manhãs quando acordo e decido, não sei por quem, dedicar meu tempo ao que não me dá prazer, por quem eu faço isso? por que essa morte lenta dos meus dias?
 Inventaram há muito tempo necessidades que fogem das nossas prioridades, disseram-nos que é preciso trabalho, alguém, salário, café para manter acordado, diploma, casa limpa, cabelo impecável, cerveja cara, coração em altar, corre-corre que o tempo está acabando, sem listas, sem sonhos, sem vontades, sem beijos demorados, corre-corre que a vida é para já, mas será que a minha vida é para mim? 
 Encostar a cabeça no travesseiro não permite pensamentos, a mente está cansada demais para pedir e, mais ainda, para agradecer. Distancio-me da paz que só Deus permite, do abraço apertado que só o amigo tem, do riso bobo que só o amado proporciona. Mas há tempo para isso? Não há, nem tempo nem ânimo, mover um dedo fora da programação gera caos, mas eu pensei hoje mais cedo, será que o caos não é a própria programação? Não sei, mais uma pergunta sem resposta por medo de pensar, por cansaço de procurar por explicações. Incrivelmente, aquilo que prendia a atenção, excitava e acelerava o coração não aparece mais. Sei que existe em algum lugar dentro de mim, mas onde?
 Não é drama, melancolia ou qualquer outro termo, são vários sentimentos que oscilam, que vão do medo à tristeza em instantes, um medo que trava os pés e tristeza que inunda os olhos, um resultado desesperador, que fotografa a face de quem não sabe para onde ir, que se sente sozinho levando uma vida que não escolheu, fazendo o que não quer, mas que não para nunca, mesmo cansado, com a alma doída e doida de vontade de voltar para trás... ou seria de avançar vários relógios e calendários?
 Você me entende quando falo de obrigações que são apenas obrigações, sei que sabe o que é se distanciar de hábitos e pessoas por sempre estar cansado demais, desorientado demais. Mas você, assim com eu, entende perfeitamente o que é não conseguir passar uma semana inteira sem chorar caladinho alguma vez e sabe que quando vem uma gargalhada você queria poder eternizá-la, porque naquele momento pode se sentir e se ouvir feliz, como se tivesse sido devolvido ao seu corpo. Nós nos entendemos bem.
 Mas para confortar minha alma deixei nos rascunhos do celular um lembrete que diz mais ou menos o que quero te dizer. A culpa não é minha ou sua, tem algo de diferente no nosso jeito de ver as coisas e de encarar o mundo, e eu chamo isso de sensibilidade. Seres sensíveis padecem desde que o mundo é mundo, não seria agora a grande diferença. Mas, é a partir disso que percebo que a culpa é desse tal, de como o curso da história tem arrastado a humanidade. 
Porém, nós não aceitamos e resistimos até não dar mais, até os ombros pesarem, mas uma hora esse mundo desaba sobre nós e esmaga, escurece, repreende, até não termos saída. Por isso vou me esforçar para lembrar que essa vida, indiscutivelmente, precisa de mim. Se abaixo a cabeça e deixo as coisas prosseguirem sem estar de olho, não há vida, não existe “eu em mim” e, infelizmente, a morte da alma precede a morte do corpo.

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